Nenhum dos supostos autores dos evangelhos conheceu ou conviveu com Jesus; e cada um deles conta uma história diferente sobre a via sacra experimentada pelo nazareno
MITOS E VERSÕES. Para entender a história bíblica da ressurreição é preciso compreender o contexto em que os evangelhos foram escritos
Especial Semana Santa
A narrativa da história de Jesus de Nazaré é encontrada apenas nos evangelhos que foram decididos como canônicos pela Igreja – ou supostamente inspirados pelo Espírito Santo. O mais antigo deles é o de Marcos, escrito cerca de 40 anos depois que Jesus havia morrido.
Marcos serve de inspiração para Mateus e Lucas, escritos mais tarde; o evangelho atribuído a João é bem mais moderno, cerca de 70 anos depois que Jesus morreu.
A história da Paixão de Cristo como está na Bíblia foi escrita assim pelos evangelistas:
A Prisão:
- Os evangelhos sinóticos – Marcos, Lucas e Mateus – contam que Jesus foi preso por uma multidão, por ordem dos principais sacerdotes, dos magistrados do Templo e dos anciãos judeus, como mostra Lc 27; 47 a 53;
- O evangelho de João discorre de forma diferente sobre o episódio. Para o evangelista, Jesus foi preso por soldados romanos, como relata a bíblia em Jo 18; 1 a 11.
A condenação:
- Segundo o evangelho de Marcos, Jesus foi condenado à morte pelo Sinédrio, o superior tribunal judeu, pelo crime de blasfêmia. (Mc 14;53 a 65);
- O evangelho de João conta que Jesus foi apenas interrogado pelos sacerdotes do Sinédrio – Anás e Caifás – mas nada diz sobre condenação.
- No evangelho de João, é o governador romano Póncio Pilatos quem entrega Jesus à crucificação (Jo 19; 1 a 16).
A crucificação:
- De acordo com o relato de Mateus – baseado em Marcos e seguido por Lucas – Jesus foi crucificado no dia da Festa de Páscoa (dia 15 de nisan, no calendário hebraico antigo), depois de ter comemorado a ceia da véspera de Páscoa (Mt 27 33-44);
- O evangelho de João, por outro lado, afirma que a crucificação ocorreu na quinta-feira, 14 de nisan, na véspera da Páscoa. (Jo 19; 17 a 22) – a diferença de um dia implica várias questões dogmáticas e de fé.
O sepultamento:
- Marcos conta que, depois de morto, Jesus é retirado da cruz por José de Arimatéia, homem rico, ilustre membro do Sinédrio judaico – o mesmo que o condenou (Mc 15; 42 a 46);
- Mateus reforça esta tese, mas inclui também credenciais cristãs ao homem, e dizendo ser José de Arimatéia, inclusive, discípulo de Jesus. (Mt. 27;57-60).
Esta é a história da Paixão de Cristo, como contada nos Evangelhos.
Sem tirar, nem pôr…
Texto publicado originalmente em 10/04/2009
0 Comentários