A política maranhense acaba de ganhar um ingrediente explosivo. Os deputados federais Márcio Jerry e Rubens Pereira Júnior, ambos vice-líderes do Governo Lula na Câmara, denunciaram algo que ultrapassa os limites da disputa eleitoral: a possibilidade de uso da Polícia Civil do Maranhão para produzir gravações ilegais contra parlamentares e autoridades aliadas.


Não se trata apenas de um "ruído político". É um fato gravíssimo. Segundo os deputados, áudios supostamente produzidos em inquéritos maranhenses circularam em Brasília por mãos nada discretas. A pergunta que ecoa nos bastidores é direta e perturbadora: quem está gravando quem? E mais: a serviço de quem?

Se confirmada a denúncia, o Maranhão corre o risco de entrar para a história por um dos piores motivos — o uso da máquina pública para espionagem política. Algo digno de regimes de exceção, não de uma democracia.

O mais espantoso é que essa crise não vem da oposição. Ela nasce dentro do próprio campo do governo, entre figuras que, até aqui, caminhavam juntas. Jerry e Rubens não são nomes periféricos: são articuladores nacionais, com trânsito direto no Planalto. O recado enviado a Brasília é claro: há algo fora do controle no Maranhão.

Ao acionar o presidente da Câmara, Hugo Motta, e pedir investigação da Polícia Federal, os deputados querem mais do que respostas. Querem expor que há fronteiras institucionais que não podem ser violadas, nem mesmo em nome de projetos de poder locais.

Se um Estado começa a grampear seus próprios aliados, o que está acontecendo com os adversários? O silêncio sobre isso será cúmplice.

O caso agora está nas mãos das maiores instâncias do País. Pode virar investigação nacional, pode respingar em secretarias e pode, sim, atingir figuras de primeiro escalão no Maranhão. A era das conversas de bastidor e do "deixa pra lá" acabou. Há um pedido formal de apuração, e ele parte de dentro da base.

No fim das contas, a verdadeira pergunta não é quem falou o quê, mas quem autorizou, quem vazou e com qual objetivo. Quando a política cruza a linha do legal para entrar no terreno da espionagem, não há mais disputa: há guerra.